segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A democracia em pauta

Por Adelson Vidal Alves



Recentemente completaram-se 30 anos do histórico comício da Sé, que deu largada para a famosa Campanha das Diretas Já. Em Outubro do ano passado a Carta Constitucional de 1988, fruto da mobilização popular pró-democracia, completou 25 anos, e em Março deste ano fará 50 anos que o Brasil sofreu um golpe militar.

Tais datas trazem hoje para nossas reflexões o papel da democracia. Nossos tempos são de busca constante pelo aperfeiçoamento institucional democrático, mas também de questionamentos. Seja por setores assanhados da direita, como também de parte da esquerda, há muito simpatizante de movimentos e articulações que tomam a democracia como um momento tático transitório até o triunfo da “ditadura do proletariado”.

Nestes dias deveremos escolher: procuraremos resolver nossos conflitos utilizando dos organismos modernos da democracia política, ou direcionaremos nossa fúria contra eles? Acolheremos a violência impositiva de mascarados, ou aceitaremos o caminho da busca de consensos? Entenderemos os partidos políticos como mecanismos de mediação coletiva da política, ou os desprezaremos como antro de degeneração ética e moral, no qual devem ser hostilizados?

O sentido de todos estes questionamentos está no aparecimento contínuo de estranhas formas de intervenção urbana, caracterizados por uma violência nada criativa contra tudo a que consideram “instância burguesa”. A imprensa, o parlamento, os partidos políticos, conquistas da luta direta das classes subalternas, são tratados como fonte de todo o mal que atinge a sociedade.

As recentes manifestações de rua, um levante espontâneo de amplos setores da sociedade brasileira, permitiu em seu meio o grito autoritário de amplas camadas sociais dispostas a sabotarem o funcionamento das instituições da democracia. Buscam deslegitimar governos eleitos democraticamente, assim como fazerem oposição inócua a várias situações, que vão desde um “rolezinho anti-classe média” até protestos contra a Copa do mundo.

As forças democráticas, mesmo as conservadoras e moderadas, devem se unir pra fazer prevalecer a conquista civilizatória que é a democracia. Não devem aceitar comportamentos autoritários com a desculpa esfarrapada da “liberdade de ação dos oprimidos”. Devem fazer valer vitórias históricas das classes de baixo, que abriram espaços importantes em sua luta cotidiana.

Devem se posicionar imediatamente contra a delirante filosofia dos black blocs, e de toda manifestação que não se encaixe nas regras do jogo democrático. Deve interferir nos temas que virão a tona neste ano, sempre reafirmando o Estado de direito como palco exclusivo na construção de novas hegemonias. Deve se afirmar a superioridade da democracia política a qualquer caminho que se pretenda rebelde, mas que no fim, serve ao fortalecimento de uma cultura autoritária e regressiva.

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