segunda-feira, 28 de julho de 2014

Esquerda molotov

Por Adelson Vidal Alves



A prisão preventiva de 23 “manifestantes” pela Polícia carioca provocou debate na sociedade e condenações por parte de entidades internacionais e juristas respeitados. Para muitos, tratava-se de prisões políticas, uma espécie de perseguição do Estado, que justificaria até mesmo um pedido de asilo, como aconteceu com a advogada Eloisa Samy, que recorreu ao governo Uruguaio e teve sua solicitação prontamente negada.

Para além de discussões técnicas e jurídicas, as questões que envolvem esse caso chegam à política, tendo como centro a democracia. Mais de 25 anos depois de promulgada a mais democrática Constituição de nossa história, ainda temos quem recorra à violência como forma de manifestação. No caso da prisão dos manifestantes, foram encontradas armas de fogo, material para coquetel molotov e outras armas que podem causar ferimentos graves caso atinjam alguém.

É de se lamentar que esse tipo de prática ainda receba apoio de partidos de esquerda (na verdade da extrema-esquerda), estes que se beneficiaram da socialização da política que nos levou ao moderno arcabouço institucional democrático. Trata-se de uma ideologia que vê na violência ação legítima contra o capitalismo. Acreditam que uma minoria pode assumir a linha de frente contra o sistema.  Para eles, a democracia seria apenas a fechada da dominação burguesa. Ignora-se que já há algum tempo o Estado direito comporta espaço propício para conquistas importantes das classes subalternas.

O Brasil pôde, diante dos acontecimentos, conhecer os dois lados deste debate. Um deles resolveu alardear um Estado de exceção atuando no país, agindo contra a liberdade de manifestação. Deste lado estavam o PT , PCdoB e os nanicos da ultra-esquerda. Do outro ponto de vista estava quem condenasse ações violentas e tomasse lado da nossa democracia que, mesmo portando defeitos históricos, é plenamente capaz de proteger as liberdades modernas via suas instituições. Neste aspecto ficou claro os que assumem a democracia como uma preciosa conquista de civilização e os que estão preparados para cancelá-la em nome de um projeto, ainda pouco esclarecido.

Percebe-se, ainda, a formação de uma “Esquerda Molotov”, que prefere bombas químicas à Constituição. Este tipo de esquerda já se mostrou negativa na história. Quem não se lembra das mortes promovidas pela resistência armada à ditadura, feitas em nome do “Justiçamento”? Da Itália, então, vem um exemplo ainda mais trágico. O chamado terrorismo vermelho chegou ao ponto de sentir prazer na dor daqueles que consideravam inimigos ( muitos destes “inimigos”, pertencentes aos quadros do Partido Comunista) atirando nas pernas  dentro de uma prática que ficou conhecida como  Gambizzare. Por lá também se defendiam dizendo que sua luta era por uma sociedade mais justa.

Portar armas, agredir jornalistas, utilizar-se de bombas contra pessoas, destruir patrimônios são atos que confrontam a lei. Coisa de criminosos comuns.

Neste caso, deve se valer a Constituição e o Direito penal. Não podemos aceitar retrocessos no trato da política. Esta tem lugar no Pacto Constitucional, no aparato das leis, na cultura cívica e pacífica que caracteriza uma democracia avançada. A existência de uma esquerda disposta a suspender o Estado de direito é um anacronismo que só se explica pela história das nossas esquerdas, quase sempre movidas por um espírito golpista. Esperamos com esperança a construção de uma esquerda democrática, pois somente esta poderá defender evoluções democráticas necessárias a um país ainda tão injusto socialmente.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Rubem Alves (1933-2014)

Por Adelson Vidal Alves

Perdemos Rubem Alves. Escritor, filósofo, teólogo, poeta e educador, era um dos mais respeitados intelectuais brasileiros. Deu uma vasta contribuição em vários campos do pensamento. Na teologia, foi um dos precursores da teologia da libertação, corrente teológica que busca articular fé e libertação social. Apresentou-nos um Deus que poderia ser louvado na beleza que o mundo apresenta, um Deus livre do dogmatismo frio, o Deus presente na poesia, na arte, na contemplação, nos sonhos e na esperança.
Foi amado pelos espíritos livres, mas incomodou muitos poderosos que se julgam detentores do monopólio do sagrado. Chegou a ser pastor presbiteriano, deixando sua função eclesiástica no final da década de 1960. Poeta, amava Cecília Meirelles e Fernando Pessoa, pediu, inclusive, que seu funeral fosse regado a poesias destes poetas, sendo suas cinzas jogadas debaixo de um Ipê amarelo.
Na educação trouxe uma contribuição ousada. Sonhava superar o tradicional modelo educacional, visto por ele como uma espécie de centro de torturas. Propunha uma escola alicerçada no prazer da aprendizagem, na relação democrática entre professores e alunos, que não seria formada por dois campos distintos do processo de ensino (professor x aluno), mas um persistente exercício de colaboração. Em parte, viu seu sonho concretizado. Ficou fascinado ao conhecer a Escola da Ponte em Portugal, uma escola que não há a divisão de classes e turmas que conhecemos, não existe professores, nem os programas de conteúdos. A experiência gerou o livro “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”.
Rubem Alves foi daqueles intelectuais que conseguem combinar, de forma rara, teoria acadêmica com a sabedoria que nasce da alma. Rejeitou por várias vezes os rituais que exige a liturgia das Academias. Leu e escreveu como um grande intelectual, mas teve tempo para amar, sonhar, trazer para nossos problemas cotidianos respostas em forma de belíssimas metáforas. Foi um escritor de talento, seus livros nos transformam por dentro, nos liberta da lei fria da racionalidade excessiva, e nos transporta para o divino da forma mais prazerosa possível, sem obedecer às regras mecânicas das religiões. Sua morte é lamentada, mas sua vida fica testemunhada em mais de 120 livros que escreveu.
Rubem Alves voa para o céu, mas não nos deixa órfãos. Ficam aqui suas lições, seu pensamento, sua dedicação em fazer deste mundo um lugar não só mais justo socialmente, mas também belo, poético e esperançoso.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A opção democrática

Por Adelson Vidal Alves


Nos últimos 20 anos, o Brasil assistiu a persistente polarização eleitoral entre as duas variações da social-democracia brasileira. PT e PSDB disputaram o poder central do país nas últimas 5 eleições, deixando pouco espaço para que nascesse uma terceira via. No governo, guardaram semelhanças. As diretrizes econômicas foram praticamente as mesmas, e as políticas sociais ampliaram, sobretudo, na gestão petista, ainda que sem romper o caráter meramente assistencialista. Negativamente, pesa o fato que não conseguiram empreender um processo reformista, capaz de alterar a injusta estrutura social do país.

Em 2014, faz-se um apelo por um novo bloco político, democrático e reformista. Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, é o candidato do PSB, partido que traz em sua história nomes como Hermes Lima e João Mangabeira, e nos momentos de maior influência do Stalinismo entre as esquerdas, levantou a bandeira do socialismo democrático. Com ele, veio a Rede Sustentabilidade, o partido que se esforça por sua legalização junto ao TSE, crescendo em torno da carismática Marina Silva e com a nobre ambição de atualizar a política em valores que eliminem, de nossa cultura, os traços da velha política. Por fim, integra ainda este bloco o valoroso PPS. Herdeiro do saudoso partidão, renovado com a convicção do papel da democracia nas lutas contemporâneas.

Essa é a terceira opção. A opção democrática, que veio para quebrar  a dicotomia eleitoral que empobrece o debate político e nos impede de ir além das campanhas comparativas, como se a sociedade brasileira vivesse uma única escolha: ou se volta ao passado ou segue tudo como está. Esquece-se o sonho de um futuro melhor, que reconheça os avanços até hoje conquistados, mas que ouse ir além deles, construindo um Brasil de todos, justo socialmente e democrático politicamente.

Os que tomam a democracia política como valor universal, negando dar a ela adjetivos de classe. Que veem no moderno Estado de direito uma conquista de civilização, espaço privilegiado para que as classes sociais resolvam seus conflitos sem que se abra um confronto aberto e violento, devem, de imediato, assumir a candidatura de Eduardo Campos.  Dilma e Aécio, com suas diferenças, não preenchem satisfatoriamente os quesitos para que, pela via democrática, façamos nascer em nossa terra um novo país, que esteja a altura de nossas potencialidades históricas.

Por tudo isso, os democratas devem estar ao lado de Eduardo Campos, Presidente.