quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Carta aberta aos vereadores de Volta Redonda

Por Adelson Vidal Alves



Caríssimos vereadores de Volta Redonda, a mídia noticiou hoje que nossa casa legislativa promulgou, depois do veto do prefeito Neto,  o bizarro projeto de lei do vereador Paulo Conrado, que proíbe o debate de gênero nas escolas de Volta Redonda, assim como sua inclusão no PME. Pelo que me consta, ainda, nenhum dos senhores foi contra este projeto.

Bem, acompanhei de perto este debate, cheguei inclusive a enviar uma carta como esta ao prefeito Neto. Com o veto deste, pude participar da audiência pública que tratou o Plano de educação do município, sendo testemunha de um espetáculo lamentável comandado pelo presidente da casa, acompanhado por seus pares que, além de demonstrarem absoluta ignorância no tema, abusaram de adjetivos toscos para com os defensores do debate de gênero, os quais não vale a pena mencionar aqui.

Também sou delegado, como professor, no fórum de educação do município, onde as discussões já se dão há semanas, e em nenhum momento vi sequer um de vocês por lá. É inadmissível que em uma democracia a casa legislativa não se faça presente em um momento tão importante como esse. Estariam mesmo os senhores preocupados com as diretrizes pedagógicas do sistema de ensino da cidade? Ou seria o show midiático feito por Conrado, acompanhado pela omissão de todos, um aceno oportunista para o eleitorado conservador voltarredondense? Somente isso explicaria a pressa desnecessária para tratar o tema, que conta com conhecimento raso e superficial de todos vocês.

Claro que a vitória do projeto é uma vitória apenas simbólica. Pela graça constitucional, a sala de aula é território do professor e seus alunos, e não há lei que limite a saudável liberdade de expressão de educando e educadores. Ou estariam os senhores dispostos a vigiar os passos de nossas aulas com câmeras ou até mesmo militarização das salas de aula? A se julgar pelo trabalho de vocês não duvidaria que os senhores chegassem a tal ponto.

Nós, os educadores democratas, convictos e obedientes a ética profissional de educar para a civilização, seguiremos mantendo nosso compromisso de debater as questões contemporâneas da sociedade que se modifica dia-dia. Seguiremos trabalhando contra a discriminação de todas as espécies, o obscurantismo e o fundamentalismo religioso que querem pautar as discussões do Estado laico. Seguiremos promovendo a diversidade sexual, o pluralismo de ideias, a valorização da construção do cidadão crítico e autônomo para a sociedade.

Não somos inimigos da família, não militamos por uma bandeira ideológica homogênea, o que nos une é a fé na educação como instrumento de libertação, de luta contra a alienação, de promoção de uma sociedade mais justa, igualitária e tolerante. Leis como essa dificultam nosso trabalho, mas somos incansáveis e corajosos a ponto de enfrentar, dentro dos limites democráticos, toda e qualquer iniciativa que fira nossos sonhos.

Atenciosamente,

Adelson Vidal Alves

Professor de História